terça-feira, outubro 20, 2009

Palavra de Maestro "Segundas oportunidades"

“Maestro, vou sair do coro.” São poucos os que conseguem dizer. Seja por vergonha, medo da reacção ou simplesmente falta de consideração, poucos são os que conseguem verbalizar. Não é fácil acabar , cortar com o vínculo que se criou com o grupo, as pessoas que se tornaram amigas, o projecto em que estava envolvido. É uma decisão muito difícil!

Julgo que o papel do maestro é o de agradecer: primeiro, porque o corista teve consideração e respeito; segundo, porque no tempo em que esteve foi uma peça importante na dinâmica. O grupo é o que é hoje também pelas pessoas que por ele passaram. Apenas assim um dia poderemos ouvir “ Posso voltar?”. Quanto mais nos prendem, mais queremos sair.

Dizemos no Vox Laci que não somos um fim mas um meio, um tempo, onde as pessoas pedem para entrar (audição), mas que terminará certamente um dia. Como um comboio que apanha e larga passageiros. Apenas tenho uma certeza acerca das pessoas que estão: um dia sairão. E com esta consciência não se perdem coristas, mas ganham-se pessoas, pois apenas na liberdade de cada um, na responsabilidade do compromisso para com o grupo, poderemos todos crescer.

Não é muito diferente de uma relação a dois: ambos fazem uma audição e partindo -ou não- para o compromisso, sabem que um dia partirão: seja pela morte física, seja pela emocional. Um dia tudo terá o seu fim. Aceitando esta inevitabilidade, porquê preocuparmo-nos por antecipação?

Vivamos, aceitemos, amemos, cantemos, estudemos, investamos, choremos, brinquemos, dêmos graças pelas coisas boas que a vida (Deus) nos proprociona, sobretudo pelas segundas oportunidades. São tantas, mas por vezes estamos focados no ponto negro da folha. Não estou a falar do “Second Life”, mais vale viver uma vida virtual do que a beleza da vida real, nem muito menos das vidas duplas que tantos insistem viver. “Estou a cantar em dois coros, mas os maestros não sabem!”, “Estou a cabular, mas os professores não vêem!”, “Estou a viver um caso extra-conjugal!”, ... isto não são segundas oportunidades, mas vidas paralelas e de mentira.

Segundas oportunidades são quando: coristas voltam a cantar; alunos voltam a estudar; professores voltam a ter brio e alegria no ensino; músicos voltam a tocar; pessoas voltam acreditar no amor; o rancor e a mágoa dão lugar ao perdão (filho pródigo); crianças voltem a viver sua infância; jovens sem pressa de ser adultos à força, pais e filhos voltam a confiar. Segundas oportunidades são quando aprendemos com os erros, aceitamos a nossa humanidade e acreditamos para além da na nossa capacidade. Ninguém nasce ensinado, a vida é uma aprendizagem diária com os nossos erros e os dos outros. Temos de dar segundas oportunidades a quem as pede. Um dia poderemos ser nós a precisar.

Seja já a 2ª, 3ª ou 234ª oportunidade é sempre uma outra oportunidade para se ser feliz. A grande questão é se no final valerá a pena.

Segundas oportunidades são quando pessoas voltam a sonhar. Está a dar/receber uma segunda oportunidade?

Com os melhores cumprimentos.
o maestro,Myguel Santos e Castro

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